segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Terapia Ocupacional : Terapia Ocupacional Dica de Saúde. Estudo que sugere que falar mais de uma língua pode evitar prevenção de ...

Terapia Ocupacional : Terapia Ocupacional Dica de Saúde na prevenção de ...: Falar mais de uma língua pode evitar sequelas de AVC, sugere estudo 21 novembro 2015 Compartilhar Image copyright SPL Image ca...

Terapia Ocupacional Dica de Saúde. Estudos sugere que falar mais de uma língua pode evitar sequelas de AVC


Falar mais de uma língua pode evitar sequelas de AVC, sugere estudo

  • 21 novembro 2015





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Image captionEstudo sugere que falar mais de uma língua pode 'proteger' cérebro de sequelas após derrame

Falar mais de uma língua não traz apenas benefícios culturais. Segundo um estudo recente feito na Universidade de Edimburgo, na Escócia, ser bilíngue pode ajudar pacientes a se recuperarem melhor de um AVC (acidente vascular cerebral).A pesquisa foi feita com 600 pessoas que foram vítimas de AVC – o resultado mostrou que 40,5% das que falavam mais de uma língua ficaram sem sequelas mentais; entre as que falavam apenas uma língua, só 19,6% ficaram sem sequelas.

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Terapia Ocupacional : Terapia Ocupacional : Tecnologia assistiva , terap...: Terapia Ocupacional : Tecnologia assistiva , terapia ocupacional

Estratégias de intervenção da Terapia Ocupacional em consonância com as transformações da assistência em saúde mental no Brasil



Interface (Botucatu) vol.15 no.36 Botucatu Jan./Mar. 2011  Epub Sep 24, 2010

On-line version ISSN 1807-5762  Scielo.

hhttp://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832010005000030 

 


Estratégias de intervenção da Terapia Ocupacional em consonância com as transformações da assistência em saúde mental no Brasil

Interventions strategies within Occupational Therapy consonant with the transformations in mental health care in Brazil

Estrategias de intervención de la Terapia Ocupacional de acuerdo con las transformaciones de la asistencia en salud mental en Brasil


Daniela Tonizza de AlmeidaI; Érika Renata TrevisanII
IUniversidade Presidente Antônio Carlos. Av. Nossa Senhora do Carmo, 1805/1402. Carmo, Belo Horizonte, MG, Brasil. 30.320-000.daniela_tonizza@yahoo.com.br
IIUniversidade Federal do Triângulo Mineiro



RESUMO
Este estudo investigou como as mudanças que estão ocorrendo na atenção à Saúde Mental no Brasil vêm transformando a prática recente do terapeuta ocupacional, por meio de uma análise de artigos científicos publicados no período de 2002 a 2008. Considera-se que houve mudanças significativas quanto ao conceito de Saúde Mental, abandonando a assistência centrada na doença para enfocar a promoção da saúde, o resgate da cidadania e a participação social. A noção de atividade foi ressignificada e o setting terapêutico ampliou-se para o território, assim como, foram apresentados novos referenciais teóricos condizentes com a proposta de desinstitucionalização e reabilitação psicossocial. As ações interdisciplinares propostas pelos serviços substitutivos estão de acordo com os pressupostos teóricos que sustentam a profissão. Da mesma forma, o terapeuta ocupacional tem contribuído efetivamente para consolidação da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Saúde Mental. Desinstitucionalização.

ABSTRACT
This study investigated how the changes that have been taking place within mental health care in Brazil have recently been transforming occupational therapists' practices, through an analysis on scientific articles published between 2002 and 2008. It was considered that there were significant changes relating to the concept of mental health, in which disease-centered care was abandoned in order to focus on health promotion, revival of citizenship and social participation. The idea of activity was given new meaning and the therapeutic setting was expanded to the territory. In addition, a new theoretical framework in line with proposals for deinstitutionalization and psychosocial rehabilitation was presented. The interdisciplinary actions proposed by substitutive services were in agreement with the theoretical assumptions that sustain the profession. Likewise, occupational therapists have made effective contributions towards consolidating psychiatric reform in Brazil.
Keywords: Occupational Therapy. Mental Health. Deinstitutionalization.

RESUMEN
Este estudio ha investigado el modo en que p los cambios que ocurren en la atención a la Salud Mental en Brasil vienen transformando la práctica reciente del terapeuta ocupacional, por medio de un análisis de artículos científicos publicados durante el periodo de 2002 a 2008. Se considera que han habido cambios significativos en relación al concepto de Salud Mental, abandonado la asistencia centrada en la enfermedad para encarar la promoción de la salud, el rescate de la ciudadanía y la participación social. La noción de actividad ha sido nuevamente significada y el setting terapéutico ampliado para el territorio, así como también se han presentado nuevos referenciales teóricos adecuados a las propuestas de evitar la institucionalización y de la rehabilitación psico-social. Las acciones interdisciplinarias propuestas por los servicios substitutivos están de acuerdo con los presupuestos teóricos que sustentan la profesión. De la misma forma, el terapeuta ocupacional ha contribuido efectivamente para la consolidación de la Reforma Psiquiátrica Brasileña.
Palabras clave: Terapia Ocupacional. Salud Mental. Desinstitucionalización.



Introdução
Historicamente, a assistência psiquiátrica no Brasil se organizou por meio de um modelo de atenção caracterizado por práticas assistenciais que enfatizavam a sintomatologia e se efetivavam por intermédio de longas internações em hospitais psiquiátricos, negligência e maus-tratos. Entretanto, essa realidade vem sendo transformada gradativamente. A mudança iniciou-se com o movimento de reforma psiquiátrica, no final da década de 1970, inspirada nos pressupostos teóricos e práticos do Modelo da Psiquiatria Comunitária Italiana (Amarante, 1998).
Um grande avanço neste processo foi a aprovação da Lei Paulo Delgado, em 2001, que prescreve a construção de uma rede de serviços substitutivos ao modelo manicomial que respeitasse o direito social e aumentasse o poder contratual dos usuários.
No conjunto dessas transformações, as identidades profissionais dos técnicos e a cisão entre diferentes disciplinas são permanentemente colocadas em questão. Trata-se de uma nova concepção de saúde e assistência que privilegia a prática e reordena o trabalho, valorizando o trabalho inter e transdisciplinar (Ballarin, Carvalho, 2007).
As transformações estruturais e ideológicas dessa nova concepção de tratamento em saúde mental trouxeram implícitas algumas inovações para a profissão. Neste contexto, a Terapia Ocupacional vem buscando legitimidade como área de atuação e de produção de saber. A profissão, por congregar conhecimentos interdisciplinares das áreas da saúde, educação, social e cultural, e se ocupar das necessidades e dificuldades das pessoas no cotidiano, apresenta um instrumental condizente com a assistência comunitária (Ribeiro, Oliveira, 2005).
Ao refletir sobre a Terapia Ocupacional, com base no conceito de Reabilitação Psicossocial, Benetton (2001) confirma essa afirmação ao apontar que os terapeutas ocupacionais brasileiros têm se mostrado mais arrojados que os colegas americanos e canadenses, participando ativamente dos processos de desospitalização e investimento em programas de intervenção na comunidade.
Ballarin e Carvalho (2007) ressaltam a heterogeneidade das práticas e dos recursos da Terapia Ocupacional que, apesar de compartilhados no trabalho em equipe, se mostram pontuais ao auxiliar no processo de desinstitucionalização de um paciente. A partir da identificação e validação de potencialidades e interesses, da observação sistemática de seu cotidiano, do fortalecimento de vínculos e contratualidade, possibilita-se o resgate da identidade abalada com o processo de institucionalização.
Segundo Lopes e Leão (2002), como estratégia de atuação, a Terapia Ocupacional tem priorizado atendimentos grupais e, mais especificamente, as oficinas terapêuticas, pela similaridade com a proposta da profissão e priorização da atividade como uma oportunidade para a promoção de autonomia e participação social. Nesta proposta, o terapeuta ocupacional divide espaços com oficineiros, artistas e outros profissionais da saúde de forma pouco diferenciada, o que impõe a seguinte questão: essa tendência interfere na identidade e delimitação do espaço profissional?
Partindo do pressuposto de que a identidade se constitui a partir de semelhanças e diferenças, ou seja, da comparatividade com o outro, conforme Caníglia (2005), questiona-se: há possibilidade de este profissional se inserir num contexto de práticas coletivas, onde se propõe a superação do antigo paradigma da fragmentação disciplinar e, ainda assim, conservar a própria identidade?
Nessa conjuntura, surgem ainda outras indagações relativas à especificidade da profissão: de que forma o terapeuta ocupacional tem se inserido no cenário da rede de serviços substitutivos? Que ações e instrumentais ele tem utilizado para atender aos objetivos da inclusão social propostos por este novo paradigma?

Metodologia
Trata-se de uma revisão bibliográfica que pretende oferecer, ao campo interdisciplinar da Saúde Mental, um panorama geral da produção técnica e teórica da Terapia Ocupacional no período de 2002 a 2008. Para tanto, realizou-se uma busca aos artigos brasileiros relacionados ao tema, publicados em revistas científicas indexadas nas seguintes bases de dados: LILACS e SCIELO. Os artigos foram selecionados, analisados e discutidos com base nas categorias de análise: o processo da reforma psiquiátrica e a democratização da assistência; concepção de saúde; conceito de atividade, e a especificidade do terapeuta ocupacional.
Duas perspectivas teóricas, Fundamentos de Terapia Ocupacional (Caniglia, 2005) e Terapia Ocupacional em Saúde Mental (Mângia, Nicácio, 2001), ofereceram subsídios para a discussão. A Ergologia de Schwartz e Durrive (2007) também contribuiu com elementos que a enriqueceram.

Resultados
A pesquisa realizada constatou que a maior parte dos artigos publicados sobre Terapia Ocupacional no campo da Saúde Mental, no período referido, concentrava-se na Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo.
Nesse período, os terapeutas ocupacionais brasileiros publicaram, sobretudo, artigos que descrevem:
- as modalidades de novos serviços substitutivos (Nicácio, Campos, 2005, 2004; Mângia, Marques, 2004; vecchi, 2004; Mângia, Rosa, 2002);
- projetos e ações interdisciplinares propostos nestes serviços (Fontes, 2008; Lima, Ghirardi, 2008; Mângia, Muramoto, 2006; Nicácio, Mângia, Ghirardi, 2005; Mângia et al., 2002);
- discussão dos fundamentos teóricos da utilização da arte como recurso terapêutico para a Terapia Ocupacional em Saúde Mental, mas que não mencionam a inserção do profissional na rede de serviços substitutivos (Castro, Silva, 2002; Lima, Pelbart, 2007; Lima, 2006a, 2006b);
- a história da Terapia Ocupacional no campo da Saúde Mental, correlacionada às concepções de saúde vigentes na sociedade e às transformações da assistência (Ribeiro, Machado, 2008; Lima, 2006a; Ribeiro, Oliveira, 2005; Oliver, Barros, Lopes, 2005);
- a Terapia Ocupacional Social que não trata especificamente da questão da saúde mental, mas inclui os sujeitos com transtorno mental em ações direcionadas a uma "população heterogênea" e a "grupos sociais em processos de ruptura das redes sociais de suporte". Tal inclusão parece evidenciar uma tendência à compreensão de que, independente dos sintomas ou do diagnóstico, existe uma população que está vulnerável ou excluída socialmente; e as ações da Terapia Ocupacional, segundo o paradigma da Reabilitação Psicossocial, devem propor-se a enfrentar essa condição, construindo, assim, uma interlocução entre a saúde mental e os processos sociais (Nicácio, Mângia, Ghirardi, 2005; Lima, 2003; Barros, Ghirardi, Lopes, 2002).
Dentre todas as publicações pesquisadas, três atenderam diretamente ao objetivo deste estudo, uma vez que descrevem ações específicas do terapeuta ocupacional (Ribeiro, Oliveira, 2005; Lopes, Leão, 2002) ou discutem pressupostos teóricos para a prática nos serviços substitutivos (Mângia, 2002). No entanto, mais três artigos que abordam pressupostos teóricos de terapia ocupacional relacionados à desinstitucionalização, em especial, contribuíram para ampliar a discussão (Mângia, Muramoto, 2006; Barros, Ghirardi, Lopes, 2002; Castro, Silva, 2002).

Discussões
Com base nas publicações analisadas, puderam ser observados alguns aspectos comuns. Primeiramente, a prevalência dos pressupostos da Reabilitação Psicossocial como referencial teórico, o que, de acordo com Mângia e Nicácio (2001), aponta para uma necessidade de se contextualizar a prática num cenário de transformação das instituições e de surgimento de uma nova concepção de assistência em Saúde Mental, reconhecendo as novas questões presentes nos processos de superação do modelo asilar e, ao mesmo tempo, considerando a construção de redes territoriais.
Deve-se considerar que a Reforma Psiquiátrica no Brasil ainda não está finalizada e que a Terapia Ocupacional tem contribuído com reflexões e elaboração de projetos acerca de ações e estratégias interdisciplinares para a constituição de instituições e políticas de saúde que estejam de acordo com esses novos pressupostos (Fontes, 2008; Nicácio, Mângia, Ghirardi, 2005; Nicácio, Campos, 2005, 2004; Oliver, Barros, Lopes, 2005; Mângia, Marques, 2004; Mângia, Rosa, 2002; Mângia et al., 2002). A preocupação em criar estratégias para inclusão das diversidades no contexto sociocultural orienta, de forma direta ou indireta, os discursos da assistência social, saúde e educação. Consequentemente, a Terapia Ocupacional, ao contribuir com a construção desse conhecimento, marca sua presença neste cenário de práticas interdisciplinares.
Outro aspecto, que pode ser apontado como comum, refere-se à noção de democratização da assistência, assegurando: os direitos dos usuários, a inclusão de novas tecnologias provenientes de disciplinas de outros campos de conhecimento fora da área da saúde, um maior empoderamento dos usuários nas decisões referentes ao seu projeto terapêutico e na relação com a equipe, em busca de parceria e coparticipação. Ocorreu um deslocamento da atenção dada à doença e seus sintomas para a promoção de saúde mental e inclusão social.
Referências à reformulação da concepção de saúde que orientam a prática também se mostram presentes nos artigos. Neste novo paradigma, a saúde distancia-se do conceito de ausência de doença ou de estado de completo bem-estar ou equilíbrio para a concepção de projetos de vida (Castro, Silva, 2002) que aumentam as possibilidades de trocas de recursos e afetos em uma rede de relações articuladas e flexíveis, aumentando a participação real dos sujeitos na sociedade (Saraceno, 1989 apud Mângia, Nicácio, 2001).
A Saúde Mental passa a ser compreendida como uma questão complexa que envolve fatores psicológicos, culturais, históricos, econômicos e sociais. A nova concepção de saúde que orienta a prática não se restringe à manutenção da vida, mas a viver com qualidade nos diferentes modos de vida, com criatividade (Lima, 2006a, 2006b).
A especificidade da ação do terapeuta ocupacional apresentada nos artigos pode ser avaliada a partir de dois pontos de vista: referenciais teóricos e ações. Mângia e Nicácio (2001) sugerem dois referenciais que se tornaram importantes para a Terapia Ocupacional no processo de constituição do campo da saúde mental: a Socioterapia e a Psicodinâmica. Segundo tais autoras, tais referenciais surgiram a partir da intenção de humanizar as instituições psiquiátricas, criticar o Tratamento Moral, a Ergoterapia, as práticas de ocupação do tempo ocioso e violações da identidade presentes nos ambientes asilares, sem, no entanto, romper com sua lógica.
Observa-se que, nas publicações analisadas neste trabalho, esses referenciais não são citados, com exceção de Ribeiro e Oliveira (2005) que cita a Psicodinâmica a partir de uma perspectiva histórica. Estima-se ainda que a escassez de publicações científicas dos referenciais Psicodinâmico, Chamoniano, Junguiano e Sistêmico, no período referido, dificulta o reconhecimento desses instrumentos como prioridades da profissão. Esta questão mostra-se como um fator limitante desse estudo, uma vez que as publicações encontradas talvez não sejam suficientes para representar a abrangência da prática do terapeuta ocupacional no contexto atual da saúde mental.
No entanto, o que se percebe é que as novas práticas destinam-se a promover o desenvolvimento de projetos não mais num setting terapêutico fechado, mas nos espaços de vida da pessoa e em atividades do cotidiano que lhe sejam significativas, garantindo sua participação ativa no processo terapêutico.
Por intermédio da Prática Centrada no Cliente - abordagem canadense que privilegia a interação terapeuta e cliente no processo terapêutico -, rompe-se com uma prática diretiva, permitindo que o terapeuta torne-se um facilitador em tal processo. Tal abordagem propõe habilitação nas áreas de desempenho ocupacional referentes ao lazer, produtividade e autocuidado, desde que dotados de sentido para a pessoa e adequados a seu momento e contexto de vida. verifica-se que este referencial constitui uma ferramenta de trabalho que coincide com os pressupostos da Reabilitação Psicossocial por enfatizar a coparticipação e responsabilização do usuário por seu projeto terapêutico, e por demonstrar flexibilidade quanto à utilização de modelos de intervenção diversos que atendam as demandas de cada caso (Mângia, 2002).
A noção de atividade em Terapia Ocupacional, no contexto das novas práticas, também é ressignificada, se inscrevendo nas relações entre as pessoas e os contextos, na produção de possibilidades materiais, subjetivas, sociais e culturais que viabilizem a convivência com as diferenças (Barros, Ghirardi, Lopes, 2002). As diferentes linguagens conferidas pela atividade artística também são apontadas como viabilizadoras do tratamento, ao permitirem a expressão, a comunicação e o desenvolvimento da criatividade, além da inserção sociocultural (Ribeiro, Oliveira, 2005; Castro, Silva, 2002; Lopes, Leão, 2002), assim como o engajamento em atividades produtivas de trabalho cooperado, viabilizando a participação e a contratualidade (Ribeiro, Oliveira, 2005; Lopes, Leão, 2002).
Ainda em relação às atividades, Barros, Ghirardi e Lopes (2002) consideram que a maneira como o terapeuta ocupacional as utiliza também é foco de discussão tanto em ambientes institucionais quanto extrainstitucionais. Afirmam que essas devem se constituir num meio de socialização e inter-relação, instrumento de inserção no universo do trabalho/estudo e da emancipação econômica; ser pensadas singularmente para cada pessoa, em cada situação, sempre referidas à história grupal. Abandona-se, portanto, a ideia de potencial terapêutico da atividade com possibilidade de prescrição segundo patologia, sintomas ou situações hipotéticas.
Do ponto de vista das ações do terapeuta ocupacional, os relatos de experiência são poucos e abordam a questão de forma inespecífica nos textos selecionados. Lopes e Leão (2002) consideram que, no contexto de práticas coletivas que enfocam a atividade humana, o terapeuta ocupacional se diferencia pela capacidade de análise e adaptação das atividades, bem como por avaliar as relações que se estabelecem a partir delas.
Outro diferencial que especifica a atuação da Terapia Ocupacional, segundo os mesmos autores, seria a priorização dada à ação, ao processo de 'fazer', em detrimento do produto final. As autoras apontam a formação profissional como fator determinante para a valorização deste profissional nos novos equipamentos de saúde mental. Atribuem, como diferencial para a terapia ocupacional, o 'olhar', ou seja, como se compreende e intervém em cada situação (Lopes, Leão, 2002).
Essas afirmações sugerem, em suma, que o diferencial da Terapia Ocupacional não estaria no objeto de estudo - a atividade humana -, mas no processo e na forma como trabalha.
A fim de ampliar a discussão sobre a especificidade da Terapia Ocupacional, pode-se recorrer a Caniglia (2005). Esta autora propõe refletir a profissão com base no processo de trabalho. Ela afirma que, em saúde, o trabalho pressupõe uma ação no sentido de fazer com que os instrumentos atuem sobre o objeto produzindo um efeito útil. Esse efeito útil definiria a especificidade de uma profissão. Situa o indivíduo enquanto a matéria-prima/objeto, com uma história, uma demanda e um contexto; o profissional de saúde, enquanto um dos sujeitos produtores; os instrumentos de trabalho referem-se à metodologia, às técnicas e aos recursos terapêuticos e, finalmente, o produto seria promover, tratar ou recuperar a saúde humana.
Assim, na Terapia Ocupacional, o processo de trabalho, o raciocínio clínico e o ato terapêutico ocupacional se realizam no sentido da produção de seu objeto de trabalho, o que, no âmbito mais geral, corresponde à promoção, tratamento e recuperação da saúde humana e, num âmbito mais específico e disciplinar, do fazer humano relativo ao trabalho, lazer e atividades domésticas. Ao mesmo tempo em que busca reduzir limitações, dificuldades ou barreiras, investiga talentos, habilidades e aptidões, favorecendo o encontro entre essas habilidades e as ocupações oferecidas no mundo contemporâneo. Da mesma forma, o ato terapêutico ocupacional deve convergir ao contexto disciplinar sem limitar-se a ele, uma vez que a disciplina se alimenta da inter e da transdisciplinaridade.
Partindo desse raciocínio, o 'olhar' (Lopes, Leão, 2002) refere-se à metodologia. Sendo assim, serviria para definir a especificidade? Pode-se recorrer a uma analogia a fim de se visualizarem os termos dessa discussão: um marceneiro não se define pelo conhecimento sobre a madeira ou pela forma como serra ou martela, mas pela capacidade de produzir um objeto útil, por exemplo, uma cadeira. Ora, qualquer um que queira pode produzir uma cadeira, mas somente torna-se marceneiro quando esse ofício passa a defini-lo como pessoa, quando o produto desse trabalho se constitui em possibilidade de estabelecer trocas sociais.
Essa analogia não se verifica quando se trazem as reflexões acerca do processo de trabalho do terapeuta ocupacional para o campo da Saúde Mental. Observa-se que o produto do trabalho do terapeuta ocupacional coincide com o produto proposto pela Reabilitação Psicossocial, uma vez que autonomia e participação social se articulam com o engajamento em atividades significativas no contexto de vida (Youngstrom, 2002) e "a terapia ocupacional tem como propósito final a inclusão social" (Benetton, 2001, p.147), dificultando a definição da especificidade a partir do produto.
Portanto, com relação à especificidade do trabalho do terapeuta ocupacional no campo de transformações da assistência em Saúde Mental, o terapeuta ocupacional vive algumas contradições num contexto político que está sofrendo profundas modificações. Tal contexto propõe: descentralização, desospitalização, novos equipamentos de assistência ao portador de transtorno mental, ampliação dos recursos humanos, horizontalidade nas relações, presença de profissionais não "psi" e insuficiência da clínica psicoterapêutica. Ao mesmo tempo, a proposta de se trabalhar de forma inter e transdisciplinar coloca em questão a exclusividade das técnicas do conhecimento de cada profissional, uma vez que as intervenções passaram a ser coletivas. A formação do conhecimento e técnicas passou a ser de todos e para todos. Da mesma forma, o setting terapêutico se amplia da instituição fechada para o espaço comunitário. O trabalho aparece revitalizado, não mais como um recurso terapêutico, mas como um direito.
Dessa forma, o terapeuta ocupacional pôde verificar a valorização da atividade humana e do trabalho para a saúde mental e inserção social das pessoas e, ao mesmo tempo, se propôs a superar a ideia da atividade como recurso terapêutico ou como ocupação do tempo ocioso, presente nas práticas tradicionais. Trata-se de um momento de revisão de conceitos, o que pode causar uma sensação de estranheza com relação à identidade profissional. No entanto, este momento mostra-se crucial para contribuir com seu conhecimento sobre atividade humana para a construção do modelo teórico-assistencial interdisciplinar pautado na Reabilitação Psicossocial.

Para a reabilitação psicossocial e mais especificamente para a terapia ocupacional, o desafio da inserção social de pessoas vulneráveis e o desenvolvimento de formas de convívio com a diferença exigem transformações profundas nos modos de conceber o cuidado e organizar os serviços em confronto com as concepções e estratégias tradicionais o que implica na definição de novos perfis profissionais. (Mângia, Muramoto, 2006, p.116)

Ao analisar as mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho, Schwartz e Durrive (2007) ressaltam que, cada vez que há novos princípios técnicos a serem empregados, criam-se entidades coletivas para operá-los de forma a sempre reconfigurá-los. Dessa forma, quando o trabalho aparecia circunscrito apenas por gestos visíveis e diferenciados por cada membro de uma equipe multidisciplinar, podiam-se definir as qualificações no coletivo de trabalho. Frequentemente, as qualificações eram restritivas tanto em relação às prescrições quanto à realidade do trabalho.
A partir do momento em que aparece a necessidade de se gerirem as interfaces técnicas e humanas no trabalho - como é o caso da Reabilitação Psicossocial -, desenvolve-se um deslizamento da qualificação para acompetência, que, segundo os mesmos autores, refere-se à capacidade de gestão de todas as interfaces do trabalho, tanto técnicas quanto humanas.
Desse modo, a profissão, por apresentar um instrumental condizente com a assistência comunitária (Ribeiro, Oliveira, 2005), mostra-se qualificada. No entanto, o domínio da técnica não garante mais a inserção neste campo. Para tanto, é necessário mostrar competência no confronto cotidiano com as variabilidades e diversidades que esse contexto impõe. Nesse sentido, salienta-se a efetiva participação do terapeuta ocupacional na Reforma Psiquiátrica no Brasil, que vem compondo as novas equipes e as novas modalidades de serviços substitutivos em Saúde Mental, muitas vezes coordenando equipes ou inovando propostas de trabalho. Portanto, talvez o aspecto que aproxime seja exatamente aquele que permite a diferenciação num campo de práticas interdisciplinares. Recorrendo a analogia anterior, pode-se pensar na habilidade de se produzir uma cadeira, mas não qualquer cadeira.
Ofertas predefinidas e compartimentarizadas, de acordo com as diversas especialidades profissionais que operam com pouca ou nenhuma interação ou interatividade, resultam na concepção de um projeto terapêutico como somatória de diferentes procedimentos, desprovidos de um sentido claro para o usuário. A fim de criar processos de saber-fazer mais integrados e interativos e que, no limite, sejam capazes de superar as barreiras entre as diferentes disciplinas, Mângia e Muramoto (2006, p.118) ressaltam "a necessidade de reinventar e dotar de sentido as nossas profissionalidades e assim também, nos desinstitucionalizarmos".

Considerações finais
Observa-se que a Terapia Ocupacional, em Saúde Mental, tem se respaldado no discurso da Reabilitação Psicossocial para consolidar sua ação e inserção nos novos equipamentos da rede de serviços substitutivos. Houve uma mudança de paradigma referente aos conceitos de saúde mental no âmbito da Terapia Ocupacional, ressignificação das atividades e a ampliação do setting terapêutico, desenvolvendo ações no próprio espaço de vida dos sujeitos.
Nota-se uma tendência em abandonar um modelo de atenção centrado na doença para enfocar promoção de saúde, cidadania e participação social. O foco passa a ser a singularidade de cada indivíduo, sua história, sua cultura, seu cotidiano, em um processo que facilita o exercício da autonomia e funções na comunidade.
A Arte vem se consolidando como possibilidade de se alcançarem os objetivos tanto de expressão e comunicação, quanto de inclusão social. Trata-se da possibilidade não só de criar, mas de, a partir da manipulação de uma matéria de expressão, pensar as relações entre a criação e a produção de saúde, de enfrentamento da doença, solidão ou isolamento.
Da mesma forma, a Prática Centrada no Cliente constitui um referencial teórico específico do terapeuta ocupacional, que permite desenvolver ações em parceria com os usuários, auxiliando-os no processo de identificação de suas demandas e superação das barreiras que se interpõem à sua participação social e desempenho satisfatório nas atividades cotidianas.
Quanto à especificidade do terapeuta ocupacional, pode-se apontar que todas as ações interdisciplinares propostas pelos serviços substitutivos estão de acordo com os pressupostos teóricos que sustentam a profissão; e, ao terapeuta ocupacional, cabe o desafio de demonstrar competência no cotidiano do trabalho em equipe, pontuando o quanto sua formação e seu conhecimento sobre a atividade humana podem contribuir para alcançar os objetivos da Reabilitação Psicossocial.
Apesar de a escassez de publicações científicas relacionadas à prática de Terapia Ocupacional em Saúde Mental no Brasil dificultar a delimitação do campo, pode sugerir que a questão da especificidade não se constitui mais no foco de estudos da profissão.
A Terapia Ocupacional tem contribuído na produção de estudos, reflexões e elaboração de projetos acerca de ações e estratégias para a constituição de instituições e políticas de saúde que estejam de acordo com os pressupostos da Reabilitação Psicossocial, superando a fragmentação disciplinar, as práticas tradicionais e definindo um novo perfil profissional. Nesse sentido, considera-se que,

Trabalhar é produzir, mas é também acumular história, constituir um patrimônio. [...] A partir do momento que alguém pode mostrar o que ele transformou em patrimônio, num lugar relativamente estável, sua participação na história toma sentido, torna-se passível de leitura. Desse ponto de vista, a história ganha consistência para ele. (Schwartz, Durrive, 2007, p.101)


Colaboradores
Daniela Tonizza de Almeida responsabilizou-se pela coleta de dados e redação; Érika Renata Trevisan pela revisão e edição final do manuscrito.

Referências
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Recebido em 03/06/2009.
Aprovado em 19/05/2010.


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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Terapia Ocupacional : A atuação da terapia ocupacional junto ao idoso...

Terapia Ocupacional :


A atuação da terapia ocupacional junto ao idoso...
: A atuação da terapia ocupacional junto ao idoso O objetivo deste texto é apresentar a Terapia Ocupacional, em sua atuação específica j...



A atuação da terapia ocupacional junto ao idoso
O objetivo deste texto é apresentar a Terapia Ocupacional, em sua atuação específica junto ao idoso (área geronto-geriátrica). No mundo atual e globalizado é fundamental que profissões tão importantes como esta sejam amplamente e devidamente (re)conhecidas por todos os profissionais da área da saúde que atuam conscientemente e que assim percebem a necessidade e importância de outras áreas/profissões a fim de tratar holisticamente o indivíduo-paciente. A terapia Ocupacional (TO) tem um papel fundamental no processo de cura junto à pessoas que apresentem disfunções físicas, sensoriais e/ou mentais, bem como dificuldade de adaptação ao meio em decorrência dessas disfunções ou de outros processos que venham a desencadear prejuízos à saúde biopsicossocial do indivíduo e da sociedade em que está circunscrito. O texto a seguir pretende elucidar apenas a atuação específica da Terapia Ocupacional Geronto-Geriátrica, e mesmo dentro dessa especialidade, destacar preferencialmente algumas áreas. Não existe a pretensão de que se encerre o tema ou a forma de atuação nessa área nos parâmetros descritos, sendo imprescindível destacar que a atuação da TO segue diferentes linhas/teorias de atuação, e múltiplas formas de abordagem, tanto quanto as demais profissões da saúde. Portanto quaisquer críticas e divergências serão construtivamente bem vindas se forem orientadas diretamente ao autor desse texto. 
O que é Terapia Ocupacional?
A Terapia Ocupacional é caracterizada como a profissão da área de saúde que promove o desenvolvimento, tratamento e a reabilitação de indivíduos ou grupos que necessitem de cuidados físicos, sensoriais, psicológicos e/ou sociais, de modo a ampliar seu desempenho e participação social, através de instrumentos que envolvam a atividade humana em um processo dinâmico relacional entre esta e a pessoa do paciente e a do terapeuta. Para isto o terapeuta ocupacional lançará mão, em diferentes situações, do uso específico de atividades expressivas, lúdicas, artesanais, da vida diária e de auto-manutenção, psicopedagógicas, profissionalizantes, entre outras, previamente analisadas e avaliadas, sob os aspectos anatomo-fisiológicos, cinesiológicos, psicológicos, sociais, culturais e econômicos.
O terapeuta ocupacional, sempre que necessário, trabalha em estreita cooperação com outros profissionais e atua ainda nas áreas de pesquisa científica, educacional e administrativa. Nesta última, dirigindo, supervisionando e orientando serviços próprios em instituições públicas ou privadas, educacionais e assistenciais.
As qualidades curativas do trabalho, dos exercícios e dos jogos, expedientes comuns à Terapia Ocupacional, são reconhecidas e utilizadas há milhares de anos. Os povos antigos interrelacionavam essas três atividades para o tratamento do corpo e da alma.
No século XX a Terapia Ocupacional se estruturou como profissão, inicialmente voltada para tratar/reabilitar os indivíduos que se tornaram incapacitados física e mentalmente, durante as guerras mundiais. O curso de graduação em Terapia Ocupacional foi reconhecido em 1969 e a profissão oficializada em 1971.
Objetivos da Terapia Ocupacional
Promover e manter a saúde, restaurar e/ou reforçar capacidades funcionais, facilitar a aprendizagem de funções essenciais e desenvolver habilidades adaptativas visando auxiliar o indivíduo a atingir o grau máximo possível de autonomia no ambiente social, doméstico, de trabalho e de lazer, tornando-o produtivo na vida de relação.
Metodologia de Trabalho
A prática Terapêutica Ocupacional compõe-se em:
- Realizar entrevista e anamnese junto ao paciente, e se necessário junto à família;
- avaliar o paciente na disfunção específica, levando-se em consideração a queixa principal que o paciente traz, correlacionando-a à totalidade de suas relações com o mundo;
- estabelecer os objetivos terapêuticos, se possível conjuntamente com o paciente e/ou família, destacando e ordenando as prioridades, idealizando assim um cronograma a fim de gerar um parâmetro temporal de possibilidades realísticas;
- selecionar e aplicar métodos, técnicas e recursos apropriados ao tratamento, e adequados à realidade sócio-econômica e cultural do paciente;
- criar, estimular e desenvolver condição e/ou situações que favoreçam o desencadeamento do processo terapêutico. Em terapia ocupacional, esse processo se dá, essencialmente, através da inter-relação do paciente com o terapeuta, a atividade e/ou grupo, sendo que nessa dinâmica, assume papel fundamental a pessoa do terapeuta, como um dos elementos facilitadores e integradores do processo;
- desenvolver e avaliar sistematicamente o programa estabelecido, tendo sempre como valor e referência básica para seu trabalho o respeito à condição humana daquele que está sob seus cuidados (bioética);
- avaliação do momento ideal para que o paciente possa receber alta.
Atuação da Terapia Ocupacional Geronto-Geriátrica
De um modo geral, é função do Terapeuta Ocupacional restabelecer as perdas físicas, mentais e sociais, que causam desajuste no idoso.
Na atuação com o idoso, a terapia Ocupacional age como um facilitador que capacita o mesmo a fazer o melhor uso possível das capacidades remanescentes, a tomar suas próprias decisões e lhe assegurar uma conscientização de alternativas realísticas.
Através do estímulo ao auto-conhecimento e ao autocuidado, gerando uma melhoria na auto-estima, o idoso tem condições de lidar com seus potenciais e a partir daí construir uma maneira própria de se relacionar com o meio social, atuando nele mais autonomamente. Basicamente, procura-se que o idoso tenha um desempenho mais independente possível, enfatizando as áreas de auto-cuidado, do trabalho remunerado ou não, do lazer, da manutenção de seus direitos e papéis sociais.
A atividade é um meio através do qual se vivencia significado existencial através da expressão de valores, da auto-responsabilidade, da (re)descoberta de competências e habilidades, do compromisso, e de sistematicidade, podendo envolver ainda convívio social pautado por bem-estar.
A Terapia Ocupacional utiliza instrumentos de avaliação funcional, das estruturas mentais, emocionais e sociais, e avalia principalmente o desempenho das Atividades da Vida Diária, pois são os principais indicadores da autonomia do idoso.
A avaliação do idoso em terapia ocupacional é determinada pela estimativa de sua força e debilidade, pelo reconhecimento de potencialidades remanescentes e de possibilidades reais de desempenho das atividades cotidianas. Para tanto deve-se analisar o que o paciente fazia antes de sua enfermidade e/ou estado atual e o impedimento entre ambos. Avalia-se também o estado biológico (força, tônus muscular, amplitude articular, etc.), o estado psicológico (memória, estado de ânimo, capacidade de aprendizagem, etc.), o estado social (incluindo a capacidade dos que o ajudam: familiares, amigos, voluntários) e o ambiente físico (barreiras arquitetônicas e possibilidades ambientais) na perspectiva de segurança do idoso no seu lar. Todos estes fatores devem ser analisados e adaptados para obter-se o máximo aproveitamento das condições, tendo-se em conta as limitações funcionais do paciente.
A capacidade física dos idosos está limitada por alguns fatores fisiológicos: diminuição da potência muscular, fragilidade óssea, artrites e perda da elasticidade do tecido conjuntivo.
Os fatores que afetam o SNC são os que, com maior freqüência, produzem incapacidades no transcurso dos anos. Variações das atividades mentais como a diminuição de atenção, perda progressiva de memória e instabilidade emocional, adicionadas às alterações da atividade neurológica como diminuição dos reflexos e dificuldade em realizar movimentos, além das alterações sensoriais decorrentes do processo do envelhecimento.
Os idosos mostram-se ansiosos quanto à sua segurança, à sua saúde, às relações familiares e cansam-se mais facilmente a medida que a idade aumenta. Não aprendem tão rapidamente nem retém as informações recebidas como as pessoas jovens, portanto em terapia ocupacional os cuidados devem ser direcionados para estas características peculiares dos idosos.
Objetivos gerais da Terapia Ocupacional em Geriatria e Gerontologia
1. Integrar a pessoa em idade avançada à sua própria comunidade, tornando-a o mais independente possível e em contato com pessoas de todas as idades, promovendo relações interpessoais.
2. Incentivar, encorajar e estimular o idoso a continuar fazendo planos, ter ambições e aspirações.
3. Contribuir para o ajustamento psico-emocional do idoso e sua expressão social.
4. Manter o nível de atividade, alterando o ambiente se necessário.
5. Enfatizar os aspectos preventivos do envelhecimento prematuro e de promoção de saúde.
6. Reabilitação do idoso com incapacidade física e/ou mental.
Tais objetivos estão na dependência do estado de saúde do indivíduo, do seu grau de independência nas atividades da vida diária (AVD) e no seu grau de interesse e participação.
Locais de atuação da TO Geronto-Geriátrica
Centros de Convivência, Hospitais-Dia, visando a melhoria na qualidade de vida, através da socialização, organização da rotina, recreação e lazer
Ambulatórios, Hospitais, Centros de Especialidades Médicas, através da prevenção de agravos, decorrentes da não orientação ao paciente idoso e/ou familiares, e a reabilitação física e mental devido à degeneração ocasionada por patologias crônicas.
Atendimentos Domiciliares, desenvolvendo adaptações ambientais (segurança do lar), treinos e orientações específicas para familiares e/ou cuidadores, e serviços especializados para atender à várias patologias (físicas e/ou mentais) que acometem os idosos, como: seqüelas de acidente vascular cerebral, mal de Parkinson, vários tipos de Demências incluindo principalmente, a Doença de Alzheimer, Depressão, Artrite Reumatóide, Doenças Cardiovasculares, Musculares e Respiratórias, entre outras.
Instituições Asilares, Abrigos e Casas de Repouso, realizando uma atenção dirigida para a integração social do idoso institucionalizado, bem como a prevenção de degeneração física, mental e social ocasionada, na maioria das vezes, pôr um longo período de asilamento.
Terapia Ocupacional em Reabilitação Geriátrica
Esta modalidade de TO tem sido comprovada como tratamento da mais alta eficácia em vários hospitais e por diversos autores, que são unânimes em ressaltar não só os benefícios físicos advindos desse tratamento, como também os benefícios terapêuticos no caso de problemas sociais e psicológicos.
O grande objetivo da Terapia Ocupacional em Reabilitação Geriátrica é manter no idoso a vontade de viver, e que o mundo para ele continue povoado de finalidades. Sentindo-se útil e ativo ele escapa ao tédio, à decadência e à marginalização.
Em Reabilitação Geriátrica, não se insiste em metas profissionais. Sob o ponto de vista físico, o importante é o restabelecimento funcional máximo; manter as funções corporais, melhorar as funções dos músculos e articulações com o objetivo de conseguir o máximo de independência física, sobretudo em atividades da vida diária. Preocupação constante quando acamado, como mudanças de posição, tratamento da pele, exercícios físicos, visando sempre ao aspecto preventivo de invalidez permanente.
Observar os princípios que são específicos nos casos de incapacidade física como, idealizar e adaptar os equipamento auxiliares para o idoso, como por exemplo o uso de próteses auditivas, amplificadores de som e outros.
Dentre as principais patologias e disfunções atendidas pela Terapia Ocupacional destacam-se:
Os Acidentes Vasculares Cerebrais, Mal de Parkinson, Doença de Alzheimer e diversos tipos de Demências, as Doenças Reumáticas e Artríticas, seqüelas decorrentes de doenças crônico-degenerativas como o Diabetes, as Neoplasias, a Hanseníase, entre outras.
A Terapia Ocupacional no tratamento do Acidente Vascular Cerebral
Dentre alguns objetivos gerais, destacam-se:
- Prevenção e correção de deformidades.
- Melhoria da função sensitivo-motora.
- Melhoria da função física no hemicorpo afetado, ao máximo grau.
- Melhoria da destreza e habilidade no hemicorpo são.
- Melhoria da capacidade funcional nas atividades pessoais e da vida diária, utilizando se necessário adaptações que permitam independência.
- Estimulação da capacidade para o pensamento organizador e abstrato.
- Estimulação da capacidade para as tarefas domésticas com ou sem uso de adaptações visando uma progressiva independência.
- Estimulação das funções cognitivas afetadas.
- Melhoria da função da comunicação diante de uma possível afasia.
- Desenvolvimento de aptidões vocacionais e/ou profissionais através da simulação do trabalho.
- Auxílio no planejamento das atividades domésticas e comunitárias.
- Auxílio na adaptação psico-emocional frente às limitações.
A Terapia Ocupacional no tratamento do Mal de Parkinson
Dentre os objetivos buscados pela Terapia Ocupacional neste tratamento destacam-se:
- Estimular as motivações
- Melhorar ao máximo a capacidade física, a mobilidade geral e atividade voluntária das mãos.
- Favorecer uma dicção clara
- Avaliar as possibilidades da volta ao trabalho
- Contribuir aos planos de apoio continuado do paciente e sua família satisfazendo a necessidade de estímulo para manter o paciente em seu melhor nível de rendimento físico e intelectual.
Atendimento Domiciliar
Dentre as formas de atenção, o atendimento domiciliar, é aquele que proporciona ao Terapeuta Ocupacional, um maior contato com a família do idoso, facilitando a aproximação da terapia com a realidade do paciente, e colaborando na promoção e manutenção de laços afetivos entre idosos e familiares, garantindo portanto o apoio destes, e proporcionando esclarecimentos acerca das maneiras de lidar com os idosos com limitações, ou seja uma ação educativa com a família.
A compreensão dos tipos de relacionamentos estabelecidos com os idosos, proporciona ao terapeuta uma idéia de qual espaço o paciente ocupava no lar, e saber quais pessoas de sua convivência podem colaborar diretamente com a terapia.
As situações cotidianas estão incluídas num processo terapêutico mais próximo da realidade do idoso, pois abrangem algumas de suas necessidades mais primárias ( atividades da vida diária ) e outras mais secundárias.
A adequação de atividades diversas e da estrutura física domiciliar, quando necessárias, devem levar em conta os aspectos culturais particulares do idoso e sua família. Um capítulo a parte pode ser destinado a este conteúdo, disciplinas como a Ergonomia, o Desenho Industrial e a Arquitetura, compartilham deste conhecimento e propósito. A Terapia Ocupacional muito pode fazer no sentido de adequar o domicílio, ou o lugar onde o idoso reside, principalmente se este idoso faz uso de adaptações ou recursos de tecnologia assistiva. No caso dos idosos, o ambiente físico pode ser um fator de risco para várias desordens de saúde se não estiver bem adaptado às suas dificuldades e necessidades. Dentre elas destacam-se as quedas e outros acidentes semelhantes. Uma questão também pertinente é a da independência nas atividades da vida diária. Um planejamento físico adequado pode proporcionar ao idoso com deficiências ou dificuldades uma maior autonomia e segurança dentro do lar.
Objetivos do atendimento domiciliar em Terapia Ocupacional
- Conscientização e orientação familiar quanto às necessidades do idoso;
- Adaptação física, psico-emocional e social do idoso ao seu meio, e em relação à sua atual condição;
- Valorização dos aspectos culturais (hábitos e tradições), na busca de soluções de problemas;
- Organização da rotina, busca de novos interesses e potenciais.
- Proporcionar subsídios para o idoso prover o seu auto-cuidado.

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Fonte: Boletim do CRE - Ano VII - n.2http://www.terapiaocupacional.com.br/Geriatria.htm
.portalwwwdoenvelhecimento.org.br/acervo/artieop/Geral/artigo181.htm

Terapia Ocupacional: Reabilitação de pacientes com sequelas de AVC. Estudo realizado na Alemanha.

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